sábado, 12 de março de 2011

Jânio de fio a pavio


Jânio de fio a pavio / Nelson Valente. -- 1 edição. São Paulo: EDICON, 1996.

É considerado o precursor do marketing político. Refez a linguagem política. Ao invés da palavra e do argumento, manejava símbolos e emoções. O comício era o grande cenário; ele, o próprio espetáculo.

“Uma das suas eleições mais difíceis foi a primeira, para a Secretaria do Centro Acadêmico XI de Agosto: fez uma campanha relâmpago com propaganda original. Derrotou o candidato adversário, que era cotadíssimo. Pôs uma fita no chapéu: “VOTE EM JANIO QUADROS”. Sentou-se numa barrica em frente a Faculdade. Pediu voto por voto e venceu”.

“Deputado Estadual usava como símbolo uma vela, que visava destruir as trevas que pesavam há longos anos sobre a democracia paulistana”.

“Outro símbolo memorável que Jânio apresentou foi o “tostão contra o milhão”; ele representava o tostão pobre contra o milhão dos poderosos”.

“Empunhava a vassoura que prometia, à luz das velas, como um bruxo, varrer os corruptos, os ladrões, os políticos desonestos; era aquele que vinha salvar as finanças públicas da simples expressão de massa falida”.

“Na campanha de governador mandou fazer 2 milhões de vassourinhas, o símbolo da sua campanha. Os cartazes da sua propaganda tinham uma grande vassoura, fazendo correr os ratos (políticos) assustados, caindo fora por todos os lados”.

“Na propaganda pelo interior do Estado cartazes simples: uma vassoura e os dizeres: Jânio vem aí”.
“Ao pendurar um par de chuteiras na porta do seu gabinete na Prefeitura, em 86, indicando disposição de se aposentar, conseguiu o efeito desejado: políticos e jornalistas passaram a especular sobre o gesto. Jânio não saia do noticiário”.

“Não gastava um centavo com publicidade oficial, mas era manchete diariamente”.
Para o autor, Jânio foi inimitável, sem herdeiros políticos. Ele representou a maior bofetada que as elites brasileiras já receberam.

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_ “Nesta cadeira, será diplomado um dos três candidatos à presidência” disse-lhe o Ministro Nelson Hungria.

_ “E o senhor ainda tem dúvida sobre qual será ele?”, respondeu-lhe Jânio Quadros.

Convidado por um dos fotógrafos a sentar-se na cadeira, o candidato (Jânio) recusou-se a fazê-lo, porque o lugar lhe merecia respeito, e além do mais, ele não desejava antecipar-se às urnas.

Às vésperas das eleições à prefeitura da cidade de São Paulo, seu concorrente Fernando Henrique Cardoso, apareceu no último programa eleitoral sentado na cadeira de prefeito de São Paulo. Foi derrotado por Jânio. Este a caminho a prefeitura paulistana para tomar posse, solicitou que o motorista parasse diante de um supermercado onde comprou um frasco de inseticida usado por ele para desinfetar a cadeira do prefeito, porque, segundo ele, “nádegas indignas” haviam sentado ali.

Este era Jânio Quadros, amado e odiado.

Luiz Humberto Carrião 

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