segunda-feira, 21 de março de 2011

Vargas Vila, O CAMINHO DAS ALMAS


O caminho das almas, Vargas Vila. Tradução de Galvão de Queiroz. -- Editora Prometeu, São Paulo, 1956, 167 páginas.

Hora meditabunda!
Do alto contemplava a ordenação magnífica do Universo, incendiando somente os arranha-céus erguidos do lado onde nasce o sol;
a luz poente que os iluminavam fazia transformar em ouro tudo o que estava ao seu alcance;
no chão, os automóveis num constante vai e vem deixando pela avenida Marginal paralelas invisíveis aos olhos humanos;
no céu, os urubus plainavam num espetáculo fascinante numa coreografia que um dia levou o homem a vencer a força da gravidade e colocar no ar o aeroplano;
foi visualizando esse espetáculo que os malabarista do ar inspiraram a esquadrilha da fumaça, acrobacia aérea de coragem, risco e beleza;
sobre uma mesa de madeira em treliça, pintada de branco como as duas cadeiras que a cercava, um livro: O caminho das almas, 167 páginas devoradas por um leitor contumaz;
seu olhar perdido no horizonte denunciava a perplexidade de diante de uma construção literária diferenciada, com ambientes bem descritos, o mesmo podendo dizer de seus personagens;
porém, com o enredo mergulhado em Tragédias, cuja Dor sempre levando ao mesmo desfecho, a Morte!

***

Criar é o dever de todo Artista;
o Poeta é “aquele que cria”, disse o grego;
e quem diz Poeta, diz Artista;
não há poeta verdadeiro, fora da Arte;
e não há artista verdadeiro fora da Poesia;
“criar” normas de Beleza, eternas e vivazes, feitas para resistir ao embate de sombras dos séculos;
“evocar” formas de Beleza intangível, esparsa pelo mundo espiritual, em átomos de esplendor; fixar essa Beleza em modelos imperecíveis, que forcem o assombro, a admiração e a gratidão dos séculos por vir;
Ser um “Construtor de Imortalidade”;
É ser Artista...

***

O que levaria um Artista, como ele bem o define a
“criarnormas de Beleza, eternas e vivazes, feitas para resistir ao embate de sombras dos séculos, tendo como matéria-prima a Tragédia?
“evocar” formas de Beleza intangível, esparsa pelo mundo espiritual, em átomos de esplendo; fixar essa Beleza em modelos imperecíveis, que forcem o assombro, a admiração e a gratidão dos séculos por vir; tomando como referência a Dor humana?
serum “Construtor da Imortalidade”
 é ser Artista... artista de Construção da Imortalidade feita através da apologia à Morte? Do suicídio?

***

            Ah! Poeta de construção literária inconfundível, para quem
            a “nouvelle” é um produto essencial e refinado da sensibilidade estranha, de observação aguda, de emoção passional e de sutileza estética, que requer mais pureza de linhas, mais diafeneidade de horizontes, mais graça no colorido e maior delicadeza no fundo da paisagem psíquica, que são necessários à ampla construção de um “Roman”;
            ah! Artista “divino” que optou a  
            deixar o bloco de mármore, que é a carne dos deuses, e fazer-se ceramista do espírito para dar às suas criações a fragilidade rara de uma flor;

***

            Afirma serem suas obras
            um Museu de Almas...
            isso tem sido, e são, os meus trinta grandes romances de “Flor Del Fango” a “Cachorro de león”;
            e estas pequenas novelas;
um Museu de Almas também;

***

Almas amargas a percorrerem os mais sombrios e gelados labirintos do Universo;
almas que tiveram seus sonhos homicidados ou suicidados pelo poeta, que não soube compreender que a harmonia melódica de um Prelúdio de Bach, só é possível pela adversidade de notas e tons existentes no teclado de um Cravo;
ou quem sabe, poeta, faltou-lhe o Lexapro, esse escitalopran antidepressivo inibidor da recapitação de serotonina.

Luiz Humberto Carrião 

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