quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Jânio Quadros: face a face com a renúncia


Jânio Quadros: face a face com a renúncia / 1ª edição / Nelson Valente. -- São Paulo: Editora Pindorama, 1997. 127 páginas.

“Ah! Doutor Lembo! Neste episódio, o que me faltou foi um ministro da Justiça.O meu não foi feliz.” Este comentário de Jânio da Silva Quadros a Cláudio Lembo, onde crucifica seu ministro da Justiça, Pedroso Horta, fecha uma das páginas mais intrigantes da História do Brasil.

Para o autor, a carta tinha por objetivo básico despertar uma expectativa no Congresso Nacional. Para que tal objetivo se tornasse positivo bastaria mostrar a “carta” e não entregá-la. Tudo podia acontecer de positivo para o ex-presidente, até a prorrogação do mandato para a implantação das temidas reformas de base que Janio Quadros havia elaborado. A tentativa de “chantagear” o Congresso Nacional é uma prova cabal do “golpe branco” que Janio Quadros estava delineando com o seu principal articulador: o ministro da Justiça, Oscar Pedroso Horta. É inegável que tanto Jânio quanto Horta pisaram em Brasília, território inteiramente desconhecido. O ex-presidente fez uma carreira política exclusivamente baseada em São Paulo, mesmo no curto período como deputado federal eleito pelo Paraná, de 1958 a 1960, onde jamais freqüentou o Congresso Nacional. Não conhecia a mecânica do poder na capital da República. Palavras de Jânio: “Fechava o Congresso, o que seria fácil, mas teria conseqüências imprevisíveis. Renunciava ao poder, já que tinha tido a minha autoridade alcançada. Cair à frente do Congresso Nacional de joelhos eu  nunca faria, porque significava abrir o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal à voracidade da politicalha.” Quanto a Horta, não tinha experiência política, era um advogado bem-sucedido em São Paulo [...] não é de se estranhar que se mostre tão ineficiente na articulação do golpe gaullista.

Sem dúvida alguma, uma das melhores, senão a melhor obra sobre o político Jânio da Silva Quadros, analisado como uma personagem da História do Brasil que dividiu os brasileiros “com relação à identidade e ao comportamento desse controvertido político.”

O livro narra de maneira extraordinária os bastidores da candidatura a vice-presidente da república, que era votada pelo eleitorado brasileiro; o jogo dos partidos políticos à procura de crescimento através de uma ligação ao jovem líder; a UDN em busca de sua primeira ascensão ao poder federal desde sua criação, mesmo que chorando “lagrimas de sangue” passando por cima de um companheiro de partido para ficar com Jânio. Mostra acordos interessantes com a Argentina, principalmente na área cultural, nunca mencionados em compêndios de história; A conferência de Punta Del Leste, colocando na mesma mesa o chefe do tesouro americano, Douglas Dillon e o ministro da indústria de Cuba, Ernesto Che Guevara (com sua boina basca, uniforme verde-oliva e charutos cubanos, aliada a sua dialética de esquerda)desde a ruptura das relações diplomáticas entre EUA e Cuba; a participação decisiva de Carlos Lacerda (UDN) apedrejando com a mesma mão que um dia afagou;fazendo ainda uma alusão interessante à História Privada de determinadas personagens da época, como o perfil das 13 mulheres de ministros de Jânio Quadros.

Um livro esclarecedor.

Texto: Luiz Humberto Carrião 

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