domingo, 27 de fevereiro de 2011

A última comitiva



Ao meu sogro, José Gomes Pereira - “José Moura” –
com quem pude aprender que um homem não se faz pelo o que ele tem, e sim, pelo o que ele é.

O alforge comprimia-lhe o peito.

Na parte anterior trazia sua expressão máxima na frase do filho:_ “Como é difícil ser filho do meu pai”! No posterior o rasto de trabalho, decência, honradez e estima de todos os que com ele conviveram.

Na velha guaiaca de couro surrada, valores diferenciados: filhos encaminhados na vida cada qual com a graduação que escolhera, sem perder a humildade e a polidez ensinadas como uma maneira correta de enfrentar os desafios da vida.

Nas polainas as marcas de um bandeirante.

O velho berrante silenciado.

As esporas “crioulas” servindo de decoração para a sala de visitas.

Na confusão metal, refuga a montar na mula “Princesa”, que o acompanhou por mais de 20 anos, alegando que ela estava “lisa” e que iria pular. Pela primeira vez, o velho peão receava um animal.

Ao que o tempo passava, deixava de falar na fazenda, no gado, nos animais, nos carneiros e nas palmeiras que numa manhã de janeiro haviam balançado suas folhas como que numa despedida de adeus.

Uma fumaça branca, como a de um extintor de incêndio acionado, rasga quarto adentro.

Na frente, a mula “Princesa” arreada como tal, onde o peitoral acompanhando a cabeçada exibia o couro cru muito bem esticado e trançado, com suas argolas em número de 15 formando um belo desenho, dando graça e beleza a montaria.

Pára diante do “Comissário” agonizante.

Não houve hesitação.

A mula “princesa” recebe seu cavaleiro e segue o destino traçado desde antanho.

Num andar de passadas sincopadas, ao som do cincerro amarrado no pescoço da “égua madrinha” por uma correia fina, dá os primeiros passos à sua última viagem.

O “ponteiro” segurando o berrante com a mão esquerda emite aos céus “um repicado” em forma de “réquiem”, anunciando o oficio da partida.

Os “rebatedores” com os chapéus sobre o peito em sinal de respeito fazem o sinal da cruz como despedida ao que veio do pó e ao pó estava retornando.

Na retaguarda os “peões da culatra”, repetem o mesmo ritual dos rebatedores; e por fim, os peões da “culatra manca”, que, sem nenhum animal com cansaço, ferimento ou doença para cuidar, fecha a comitiva cujo destino é juntar-se ao “cozinheiro”, que se distanciava à frente, com os “burros cargueiros” em cujas bruacas, nada de alimentos, mas a certeza do dever cumprido.

Luiz Humberto Carrião

domingo, 20 de fevereiro de 2011

O FIM DO CONFLITO: Jesus, Maria Madalena e o Código da Vinci


O FIM DO CONFLITO: Jesus, Maria Madalena e o Código da Vinci / Ben Witherington III. Tradução Vinicius Medeiros Caldevilla. -- São Paulo: Editora Landscape, 2006. 205 páginas.

Livro mais vendido na lista do jornal New York Times por mais de 40 semanas, sucesso de bilheteria nos cinemas, O Código Da Vinci, ao misturar realidade e ficção, popularizou especulações e hipóteses como: Jesus realmente foi casado com Maria Madalena? Tiveram um filho? Constantino suprimiu os primeiros evangelhos e criou a doutrina da divindade de Cristo? Os evangelhos gnósticos representam a verdadeira fé cristã que a Igreja dos primeiros tempos do cristianismo tentou suplantar? Como responder às alegações de que existem documentos que revelam segredos sobre Jesus, segredos mantidos há séculos pela Igreja e outras instituições religiosas? Seria esses documentos uma ameaça para a concepção tradicional de Jesus e o cristianismo dos primeiros tempos? O que existe de verdade e de falso na obra O Código Da Vinci? A qual propósito ele foi escrito?

Ben Witherington II (ph.D., Universidade de Durhan, Inglaterra; professor do Novo Testamento no Seminário Teológico de Asbury, em Wilmore, no Kentuck, nos Estados Unidos, não se limita a refutar os erros históricos de O Código Da Vinci, mas também contesta as armadilhas espirituais que envolvem o romance, ao tempo em que abre uma discussão sobre o “feminino sagrado” e a relação Pai (Deus) Filho (Jesus) nos evangelhos.

Interessante é que em 204 páginas, somente por três vezes em um único parágrafo o autor fala do poder das trevas.

“Esses estudiosos, apesar de brilhantes e sinceros, não estão meramente errados; eles estão desencaminhados. Está evidente que foram conduzidos a esse caminho pelos poderes das trevas”.

“C. S. Lewis uma vez disse que o melhor truque do demônio é conseguir convencer as pessoas inteligentes de que ele não existe”.

“Os velhos gnósticos pelo menos acreditavam nos poderes das trevas espirituais e estavam tentando sair delas.”

w-i-t-h-e-r-i-n-g-t-o-n-i-a-n-d-o:

“A cultura ocidental se formou sob a égide de Jesus, apesar de nela se observar forte desconhecimento da Bíblia”.

“Em uma sociedade em que a novidade é cultuada e o antigo é suspeito, não é de surpreender que O Código Da Vinci tenha permanecido como o livro mais vendido na lista do jornal New York Times por mais de 40 semanas”.

“Nossa cultura está diante de um processo de mudança no qual a forma judaico-cristã de pensar o mundo está sendo desafiada em suas fundações”.

“Tudo indica que estamos no tempo em que uma profecia do Novo testamento se transformou em realidade: Porque virá tempo em que não suportarão a sã doutrina; mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si doutores conforme as suas próprias concupiscências; e desviarão os ouvidos da verdade, voltando ás fábulas (2 Timóteo 4:3-4)”.

“Em uma cultura em que não se usavam sobrenome, a designação geográfica era uma das principais maneiras de diferenciar pessoas de mesmo nome”.

Sophie Neveu (personagem do romance) significa Nova Sabedoria [...] Ela representa o público americano pós-moderno, centrado no conhecimento de seu tempo e sua vida”.

“Para o livro de Dan Brawn, Salvação significa nos apropriarmos de nós mesmos para entender nossa própria identidade. Em outras palavras, a busca religiosa nos levaria a nosso ego, em um exercício de puro narcisismo. O conceito de ter Cristo como nosso Redentor é abertamente repudiado. No livro Ele é apenas um grande mestre ou talvez um profeta. Mas esse novo conhecimento interior, essa nova sabedoria que Sophie representa por seu nome e natureza, têm nova dimensão e alcance: o “feminino sagrado”.

“[...] para a Bíblia, Deus não é masculino e nem feminino. O Deus Criador é um Espírito (João 4:24)”.

“A vida eterna é um presente de Deus para seu povo, não uma conquista ou uma experiência auto-induzida”.

“Pode até entreter, mas se trata de um engodo. Devemos tratar esse livro como o que realmente é: uma ficção baseada em informações históricas erradas, especialmente no que diz respeito a Jesus, a Maria Madalena e ao cristianismo dos primeiros tempos”.

“A morte revela o que os deuses ou Deus pensam de uma pessoa”.

“Constantino tinha uma visão pluralista para as religiões do Império, mas foi sábio o suficiente para ver que o cristianismo tinha um futuro brilhante”.

“Não é a Igreja quem determina o evangelho, mas o evangelho quem determina a Igreja”.

“Apenas homens geram; mulheres concebem”.

“Jesus não teve um pai humano que o gerou”.

O Código Da Vinci nada mais é do que uma superprodução, um melodrama gnóstico levado às telas dos cinemas.”

Luiz Humberto Carrião

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Mentes brilhantes, mentes treinadas



Mentes brilhantes, mentes treinadas / Augusto Cury. -- São Paulo: Editora Academia de Inteligência. 2010. 122 páginas,

Não é um livro, em absoluto de auto-ajuda. Mais do que isto, o livro propõe a divulgação científica da Teoria da Inteligência Multifocal, que o autor vem desenvolvendo ao longo de mais de 25 anos, “sobre o funcionamento da mente, de construção de pensamentos e de formação de pensadores, aponto que a consciência existencial é o fenômeno mais complexo da psique.

De aplicação psicológica, sociológica, filosófica e educacional “estimula a arte de pensar, a consciência crítica e procura fornecer ferramentas para o treinamento psíquico.”

C – u – r – y – a – n – d – o:

[...] “toda escolha envolve perdas.”

“Jamais devemos esquecer que ser autor de nossa própria história é nosso mais solene direito e nosso mais importante desafio.”

[...] “os fortes apostam em quem falha e os fracos os condenam.”

“A paixão procura sua própria satisfação, não tem preocupação profunda com a felicidade do outro, embora no discurso só diga o contrário.”

“O amor não é um dom genético, nem privilégio de uma classe social, mas um fruto destilado por mentes treinadas ao longo do traçado de sua história.”

“Os conformistas transformam-se em pessoas conquistadas e não conquistadoras.”

“O amor dos romances, o “felizes para sempre”, não tem eco nas páginas da sociologia nem nos textos da sociologia. Se você não for capaz de treinar seu “eu” para revelar seus sentimentos, terá grande chance de levar para o túmulo o melhor tesouro que possui.”

“Tudo em que cremos nos controla.”

“Os sonhos não são desejos, mas projetos de vida.”

“Choramos ao nascer, sem compreender o mundo em que entramos; morremos em silêncio, sem entender o mundo do qual saímos.”

[...] “utilizamos metade de nosso tempo com preocupações débeis e pensamentos inúteis.”

“Quem usa o poder para dominar as pessoas não é digno desse poder.”

“Não ter a paranóia de querer ser o mais rico do cemitério, caso contrário, irá usufruir do seu dinheiro quem não suou para ganhá-lo.”

“É essencial passarmos da era das escolas informativas para a das escolas formativas ou escolas de inteligência. [...] Elas representa um novo paradigma, outro modelo educacional, que objetiva formar construtores de idéias e não repetidores de informações.”

“A humanidade só avançou por causa da medicina preventiva, em especial das vacinas. Mas onde se encontra a psiquiatria preventiva?”

“Bilhões de células estão suplicando por meio dos sintomas psicossomáticos, como cefaléias, gastrite, hipertensão, para que as pessoas mudem o estilo de vida, pensem e se preocupem menos, relaxem e tenham mais prazer. Mas quem ouve a voz do corpo?”

“Como o “eu” não é um bom gestor dos pensamentos, o cérebro, instintivamente, bloqueia a memória para pensarmos menos, inclusive menos bobagens e menos pensamentos antecipatórios.”

“A sociedade digital desprezou os profissionais mais importantes da sociedade, os professores e professoras, que são responsáveis diretos pela formação da sociedade do futuro. Com uma das mãos os mestres escrevem na lousa, com a outra podem mudar o mundo quando ensinam a um aluno a arte de pensar. Não são eles insubstituíveis?”

“Quem diz que não leva desaforo para casa parece forte, mas é frágil dentro de si, não sabe pensar antes de reagir.”

“Como Homo Sapiens, usamos o pensamento para descobrir o mundo que nos cerca, mas o aproveitamos pouco para conhecer o mundo que somos.”

[...] “dizer é o destino inevitável do Homo Sapiens.”

“Por que pensar é o destino inevitável do Homo Sapiens? Por que controlamos a matéria, os processos nas empresas, a direção de um veículo, mas não controlamos facilmente os pensamentos, as emoções e as imagens mentais? É uma questão psicológica e filosófica crucial. Poucos pensadores se atreveram a entrar nessa área. Em minha opinião, essa é a última fronteira da ciência.”

Luiz Humberto Carrião

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

À mesa de Jantar



À mesa de jantar, Laurita Mourão, Círculo do Livro [por cortesia da Editora Nórtica Ltda] RJ. 1979, 304 páginas, 


relata a história de uma mulher sexualmente liberada, economicamente independente, familiarmente amorosa e responsável, de um profundo amor pelo pai, Gen. Olympio Mourão Filho, personagem de 2 episódios singulares na história do Brasil: a elaboração do Plano Cohen, que possibilitou a Getúlio Vargas deflagrar o Golpe de 1937, criando o Estado Novo e a conspiração contra o governo João Goulart em 1964, que acabou por  desaguar no Golpe Militar de 1º de abril daquele ano.

Amor, paixão, traição, tragédia, sexo, prazer, filosofia, história e muito mais. Um livro que surpreende do início ao fim.

L-a-u-r-i-t-e-a-n-d-o-:

“Para mim a mesa do jantar é o altar de minha casa”.

“Não há culpa – culpa é a grande invenção dos judeus!”

“[...] que poucas mulheres sabem, é que o ato de sugar o seio materno por parte do recém-nascido promove o estreitamento dos músculos da vagina, fechando-os totalmente”.

“Devo muito a ela [Nezita] ter complementado a minha formação espiritual, quando ela me deu para ler e estudar os livros de Huberto Rohden”.

“A morte de alguém da família é triste, mas é coisa deste mundo, e os lutos e as curtições dramáticas só prejudicam”.

“Foi com Nico que começou o meu “amadurecimento na arte” e se foi afirmando meu conceito de que não há homens impotentes, senão mulheres incompetentes! Assim como não existem mulheres frígidas senão que mal trabalhadas”.

“Não sei, mas em amor a oportunidade é um fator de imensa importância”.

“[...] esperava, com sua virgindade intacta, que ele aumentasse o nome dela de solteira”.

“A expressão fisionômica de Nely foi de incredulidade, pensando que eu deveria me parecer com o Perón, considerado “o maior químico do mundo”, porque havia transformado, por duas vezes, a putassa em bela dona”.

“Como é agradável todo princípio de romance e como é triste todo final!”

“[...] eu tinha aquele homem na minha cabeça e queria tê-lo entre as pernas.”

“[...] a vida não é outra coisa que isso: construir para os outros e ir embora.”

“[...] geladeira, magnífico e eficiente gigante que reina na cozinha e que transfere sua frieza interior a todo o ambiente da família.”

“Meu pai que eu pensava eterno, ia morrer.”

“O sistema indica que as grandes diferenças de idade não são jamais aconselháveis nas uniões de caráter amoroso.”

“Em amor, sabemos todos, não há status quo.

“Rolls-Royce, uma obra de arte que caminha...”

“Sempre disse aos meus filhos que eles herdarão tudo no dia da minha morte, menos o Rolls-Royce, que será do último homem que me faça feliz.”

Luiz Humberto Carrião

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Martinha II




O show é o especial de final de ano do cantor Roberto Carlos, que neste ano, 2010, homenageou artistas sertanejos e do movimento jovem guarda.

Uma dupla sertaneja anuncia: [...] o “queijinho de minas”, Martinha!...

A orquestra inicia a introdução da canção Alô, quando no corredor central de maneira tímida, de sorriso leve, passos sincronizados ao compasso da melodia; usando saia branca e blusa de renda transparente com sutiã meia-taça azul claro; laço de fita vermelha do lado direito, com uma rosa branca sobre o nó, medindo o tamanho a saia, ao qual, acompanha a cor dos sapatos; pulseira acompanhando os brincos, e estes o anel, adentra àquele palco a surpresa da noite.

Enquanto a platéia, telespectadores e espectadores esperam aquela voz infantil, meio rouca, meiga, de suavidade ímpar, se depara com uma potente voz e rouca das negras americanas, transformando o que era criança em adulto.

Uma invejável presença de palco. Seus braços parecem flutuar no espaço, são mais leves que o ar; a sensualidade exala de seu corpo; quando caminha para um canto do palco, entrega a interpretação ao guitarrista, e, aos nossos olhos, magníficas pernas que Miguelangelo desejou ter esculpido; ao retomar a canção, desliza seus dedos pelas teclas brancas e pretas de um piano levando a platéia ao delírio; entende aquele momento! Num gesto de menina travessa coloca a língua rapidamente para fora, como quem comemora o que não pode ser visível. Num gesto de pura feminilidade joga o cabelo para trás, lembrando a postura da elegante rainha egípcia Nefertit.

Muitos foram os que deixaram de estar nas suas pernas para instalar em seu coração. Ouviram sua voz e escutaram seu pensamento [royalties ao personagem Carlitos de Laurita Mourão em À mesa de jantar].

Luiz Humberto Carrião

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Martinha




Para acreditar que isso é um milagre,
Não precisa crer em Deus.
Existem olhos para ver,
Ouvidos para ouvir,
Balança para pesar,
Metro para medir.

Luiz Humberto Carrião

Emy Winehouse



O colunista Thiago Rocha, tem um quadro fixo no programa MIX MULHER que é apresentado aos sábados por Regiane Tápias, das 8:30 às 11 horas, na TV GAZETA, trazendo os melhores momentos dos programas femininos da semana.

No último programa, 5, o comentarista de celebridades, se é que pode ser tratado neste gênero, traçou ásperos deboches contra Emy Winehouse, inclusive mostrando fotos da artistas, elaboradas pelo ócio remunerado da fotografia, em condições deprimentes.

Em busca de emprego esses “profissionais” são capazes de negociar a própria mãe. Pobre televisão brasileira!

Luiz Humberto Carrião

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Maria Bethânia Viana Teles Veloso




Sou mais pelo intérprete do que pelo cantor. Embora não pareça mais existe diferença. O cantor é aquele que imposta as notas dentro de uma afinação impecável. O interprete vai mais além colocando sentimento nas palavras, versos e estrofes entoadas. Todo intérprete é um cantor, mas nem todo cantor é um interprete. Maria Bethânia Viana Teles Veloso, é tudo isso, e mais, grava o que realmente lhe toca a alma. Bethânia vive Noel Rosa através da voz, como Arthur Moreira Lima o faz através das mãos. Três apitos com arranjos de Arthur nos remetem aos noturnos de Chopin. Em 2007, Bethânia gravou Roque Ferreira, Lágrima, no CD – "dentro do mar tem um rio". Arthur interpretando Noel nos remete a Chopin, Bethânia, com Roque,  nos remete a Noel.

Luiz Humberto Carrião

A Grande Ameaça




A Grande Ameaça / S. Harcourt - Rivington. -- São Paulo: Editora Cupolo Ltda, 1945. 279 páginas.

O livro foi originalmente escrito sob o título de Transformações Econômicas, sendo a maioria de seus textos publicados em forma de artigos no jornal O Estado de São Paulo, tomando emprestado aquele título.

O autor analisa as crises do sistema capitalista e suas contradições que levaram ao aparecimento do que chama de “homem econômico”.  Todavia, a grande massa composta por esse “homem econômico” tendência à  teoria da estatização dos bens, meios e modos de produção. Sistema este, na visão do autor, “que nada pode fazer senão roubar-lhe o limitado grau de liberdade que ainda lhe resta”.

Harcourt-Rivington já alertava em 1945, que “todas as tiranias de hoje (daquela época) são socialistas e que ao contrário, o socialismo completo jamais foi posto em prática em qualquer parte do mundo a não ser sob forma de tirania.” Cita Ferdynand Zweig para esclarecer A Grande Ameaça: “se iniciarmos uma economia inteiramente planejada, podemos ter como certo que essa economia, após determinado período, talvez menor do que se pode imaginar, destruir-se-á, provocando movimentos que lhe são antagônicos”, é por esta razão, explica Harcourt-Rivington, que acredita que a atual tendência para a “esquerda”, trazendo em sua esteira a nacionalização, a administração central e seus limites inerentes e imperativos à liberdade humana, acarretará logo que seus verdadeiros resultados se tornem evidentes às massas, atualmente (referindo-se à aquela época) pouco ilustradas, uma segunda revolta maciça contra as fantasias socialistas pelas quais clamam atualmente, e produzirão lutas violentas, talvez sanguinárias, pela reestruturação das liberdades que sacrificaram em sua ignorância. E adverte: “Se desejamos evitar a perda de nossa liberdade e a subseqüente luta civil para reconquistá-la, devemos sustar esta catastrófica tendência para a “esquerda”, a partir do que emite suas opiniões sobre o que se deve ser feito, consciente da impossibilidade de uma retorno ao laissez faire, laissez passer.

Apesar de escrito em meados do século passado, o livro vale pela riqueza teórica sobre a evolução econômica do homem no mundo.

Texto: Luiz Humberto Carrião   

Pau de sebo


Na minha idade, 58, a relação entre o homem e divindade, notadamente a submissão do primeiro em relação à segunda, vai desmaiando no tempo, deixando um rasto trágico sobre o que vale a vida.

Tal qual uma pedra de amolar, a vida desgasta-nos independentemente do metal que fomos feito (royalties a George Bernard Shaw). Daí, pouco adianta a divindade se a hora chegou. Não importa mais o desejo de possuir ou o medo de perder o que se possui. A infelicidade não se instala pelo desejo ou pelo medo, mas pela certeza de validade vencida.

Geriatra, janúvia, lozartana, anlodipina, atenolol, nexion, rivotril, lexapro! De nada adianta. O caminho é uma próstata comprometida, os diabetes alterados, a pressão arterial descompensada, o cardiologista, os conselhos para as caminhadas, abstinência do álcool e do tabaco, cardápio a base de verduras e carnes brancas. Doces, coca-cola, sorvetes, nem pensar! Nem o útero que gerou ou a mama que amamentou são poupados. Uma desdita!

A divindade, irmã siamesa do ser humano, nasce com o parto. Faz parte do processo evolucionista Darwiniano. Mora no cérebro. Mesmo sendo tida como criadora e mantenedora de todo o Universo, tem suas limitações. Limitações necessárias e imprescindíveis à sua administração.

Qual o objetivo da vida senão criar a melhor defesa contra a morte (royalties a Primo Levi)? Foi a divindade quem quis! Você está passando por uma provação, persevera! São resgates de vidas passadas, acredite! Enquanto isso, adorada e venerada pelos humanos, promove um verdadeiro festival de desigualdade e sofrimento entre suas criaturas.

Ah! Doce ilusão. Não vais além de um pau de sebo com uma nota falsa na ponta (royalties ao saudoso professor Paulo Afonso Carneiro). Prazer para concebê-la, sofrimento para parir e dor para partir.

Para onde? Não sei.

Texto: Luiz Humberto Carrião
  

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Jânio Quadros: face a face com a renúncia


Jânio Quadros: face a face com a renúncia / 1ª edição / Nelson Valente. -- São Paulo: Editora Pindorama, 1997. 127 páginas.

“Ah! Doutor Lembo! Neste episódio, o que me faltou foi um ministro da Justiça.O meu não foi feliz.” Este comentário de Jânio da Silva Quadros a Cláudio Lembo, onde crucifica seu ministro da Justiça, Pedroso Horta, fecha uma das páginas mais intrigantes da História do Brasil.

Para o autor, a carta tinha por objetivo básico despertar uma expectativa no Congresso Nacional. Para que tal objetivo se tornasse positivo bastaria mostrar a “carta” e não entregá-la. Tudo podia acontecer de positivo para o ex-presidente, até a prorrogação do mandato para a implantação das temidas reformas de base que Janio Quadros havia elaborado. A tentativa de “chantagear” o Congresso Nacional é uma prova cabal do “golpe branco” que Janio Quadros estava delineando com o seu principal articulador: o ministro da Justiça, Oscar Pedroso Horta. É inegável que tanto Jânio quanto Horta pisaram em Brasília, território inteiramente desconhecido. O ex-presidente fez uma carreira política exclusivamente baseada em São Paulo, mesmo no curto período como deputado federal eleito pelo Paraná, de 1958 a 1960, onde jamais freqüentou o Congresso Nacional. Não conhecia a mecânica do poder na capital da República. Palavras de Jânio: “Fechava o Congresso, o que seria fácil, mas teria conseqüências imprevisíveis. Renunciava ao poder, já que tinha tido a minha autoridade alcançada. Cair à frente do Congresso Nacional de joelhos eu  nunca faria, porque significava abrir o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal à voracidade da politicalha.” Quanto a Horta, não tinha experiência política, era um advogado bem-sucedido em São Paulo [...] não é de se estranhar que se mostre tão ineficiente na articulação do golpe gaullista.

Sem dúvida alguma, uma das melhores, senão a melhor obra sobre o político Jânio da Silva Quadros, analisado como uma personagem da História do Brasil que dividiu os brasileiros “com relação à identidade e ao comportamento desse controvertido político.”

O livro narra de maneira extraordinária os bastidores da candidatura a vice-presidente da república, que era votada pelo eleitorado brasileiro; o jogo dos partidos políticos à procura de crescimento através de uma ligação ao jovem líder; a UDN em busca de sua primeira ascensão ao poder federal desde sua criação, mesmo que chorando “lagrimas de sangue” passando por cima de um companheiro de partido para ficar com Jânio. Mostra acordos interessantes com a Argentina, principalmente na área cultural, nunca mencionados em compêndios de história; A conferência de Punta Del Leste, colocando na mesma mesa o chefe do tesouro americano, Douglas Dillon e o ministro da indústria de Cuba, Ernesto Che Guevara (com sua boina basca, uniforme verde-oliva e charutos cubanos, aliada a sua dialética de esquerda)desde a ruptura das relações diplomáticas entre EUA e Cuba; a participação decisiva de Carlos Lacerda (UDN) apedrejando com a mesma mão que um dia afagou;fazendo ainda uma alusão interessante à História Privada de determinadas personagens da época, como o perfil das 13 mulheres de ministros de Jânio Quadros.

Um livro esclarecedor.

Texto: Luiz Humberto Carrião 

Na rua


Na rua
 Perde-se a identidade
 - dignidade
 Perde-se a ambição
 - ilusão
 Perde-se a razão
 - não é cidadão
Cão!

Na rua
 Um amigo fantástico
 - saco plástico
 Um semblante de dor
- como valor
 Um olhar de piedade
- como caridade
verdade!

Na rua
 Encontra-se a morte,
- Que sorte!

Luiz Humberto Carrião

Maciel Melo, compositor e cantador nordestino


Maciel Melo, compositor e cantador nordestino da melhor qualidade, acompanhado por Zezinho do acordeom, Júnio Souza, violão acústico e, Jones na percussão fez, em 13/01/2007, o programa Talentos na TV CÂMARA, que se encontra disponível ao público através do endereço eletrônico: talentos@camara.gov.br. Destaque para a música João e Duvê, dedicada aos filhos de Xangai, como se fosse o pai cantando aos filhos. Um primor de letra, com uma melodia à altura. Vale a pena conferir!


Luiz Humberto Carrião

De Kalafe


Um dos mais raros compactos do rock brasileiro é o que traz as músicas "Guerra" e Mundo Quadrado". O compacto saiu pela gravadora Rozemblit, responsável por um grande número de lançamentos alternativos da época. "Guerra" foi um hit local em São Paulo, na segunda metade dos anos sessenta. As duas músicas integravam o compacto simples da cantora De Kalafe, de origem árabe. De Kalafe cantava acompanhada do grupo A Turma, que tinha entre seus integrantes Arnaldo Sacomani, depois produtor e radialista. Com apenas dois compactos gravados, o grupo desfez-se no final da década, com De Kalafe seguindo carreira solo. 


Texto de Fernando Rosa.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Cássia Eller: depois de Leila Diniz, a maior irreverência deste país

Cássia Eller e Chicão
Cássia

Na mãe da “última flor do Lácio”:
Distinta,
Sábia.
 Na análise do “C” de seu nome:
Amável,
Expressiva,
Criativa.


Eller

Na Alemanha,
Morador 
Próximo da árvore Erle.

Como você mesma diz:
“Sou mulher,
Sou pobre,
Sapatão,
Mãe solteira,
Preencho todas as lacunas.
Tem de saber lidar com o preconceito”.

Preconceito
Que matou o mito
Antes do coração,
Orfaneando Chicão! 

Luiz Humberto Carrião 

Serra da Mesa

Serra da Mesa, município de Piranhas, Estado de Goiás
Foto: Luiz Humberto Carrião