terça-feira, 18 de janeiro de 2011

A pregação do Padre Zezão

Você caro leitor, conhece algo mais enfadonho do que festa de formatura nos dias atuais? Antecipo sua resposta: Não.

Normalmente são mais de 150 graduandos por fornada. E aí começa aquela lista de chamada interminável, sempre seguida individualmente pelos gritos histéricos de um parente ou amigo do formando. Se não bastasse, uma homenagem a fulano, outra a beltrano, mais uma a sicrano e por ai vai... Quando imaginamos que a cerimonial chegou ao fim é hora de novamente chamar um por um para dar um abraço nos pais, e novamente, aquela lista de nomes seguida de aplausos e gritos inexplicáveis.

Noutro dia fui a uma dessas formaturas. Tudo o que já foi narrado e mais algumas coisas aconteceram. Mas uma algo diferenciou e tirou aquele evento da mesmice responsável por essas criticas: o culto ecumênico. Mais precisamente a fala de um padre, representando a Igreja Católica que, a princípio, quando anunciado não cheguei a me impressionar com a figura, a começar pelo nome: Padre Zezão. Conheço o Padre Zezinho, aliás, dois, não três, mas Zezão. Perai! E não é de ver que o danado me surpreendeu.

Num culto ecumênico da PUC – Goiás, falando aos graduandos de direito, iniciou sua fala dizendo que havia sido alfabetizado aos 18 anos pelo MOBRAL – Movimento Brasileiro de Alfabetização – e que foi a partir de então que teve a oportunidade de conhecer o papel para escrever e o higiênico, oportunidade em que teceu um agradecimento merecido ao sabugo de milho. Falou com orgulho de seu curso de madureza, depois chamado de supletivo, terminando com seus longos 9 anos de estudos de filosofia e teologia na cidade de Belo Horizonte.

Não foi hipócrita, admitiu ter adentrado para o seminário para estudar e depois, buscar a vida longe do celibato, mas felizmente aconteceu o “chamado” e então resolveu assumir por inteiro a nunca existida vocação.

Com tantos anos de filosofia e teologia, imaginava uma designação por parte do Bispo Diocesano para a capital de seu estado, mas não, foi designado para uma minúscula cidadezinha no interior do Estado.

Lá chegando tratou logo de anunciar a primeira missa. Afiou a filosofia e a teologia e para sua surpresa, somente uma pessoa estava presente na igreja para assistir a celebração. Achou aquilo um abuso. Virou-se para o fiel e disse:

_ Me desculpa, mas eu não vou celebrar uma missa para um único fiel.

Preservando o respeito peculiar ao padre, o fiel retrucou:

_ Seu padre, me desculpe, eu trabalho numa fazenda na lida de gado. São 600 cabeças. E quando eu vou levar sal a eles, se tiver uma só cabeça, jamais deixarei de salgar o cocho.

Aquela sabia e ilustrada repreensão mexeu profundamente com o brio do recém chegado representante da igreja. Vestiu os paramentos e sapecou uma missa de 2 horas.

Terminada a celebração, novamente outra observação do fiel:

_ Padre, caso eu vou salgar um cocho para 600 animais e lá só tiver um, eu não deixo de fazer minha obrigação, mas não coloco todo o sal no cocho...

Luiz Humberto Carrião 
Publicado no Jornal Diário da Manhã, Goiânia - Goiás, Edição de 13/janeiro/2011

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