segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Canto de morte e enterro do menino de Belém



Canto de Morte e Enterro do Menino de Belém / Edição do autor / César de Araújo. - Rio de Janeiro: Coordenada-editora de Brasília, 1968. 63 páginas.

Canto de Morte e Enterro do Menino de Belém (Edson Luiz Lima e Souto) morto pela polícia em 28 de março de 1968, no restaurante Calabouço, no Rio de Janeiro. Poema iniciado em 29 de março e concluído em 1º de abril (4º aniversário da "revolução") e, no dia 2, foi dito pela primeira vez, à noite, no jardim da reitoria da universidade Federal Fluminense, em Niterói. Depois de publicado na Tribuna da Imprensa. 4 de abril, tive notícias de que estudantes da Guanabara, Minas, São Paulo e Estado do Rio, divulgaram-no através de Colégios e Faculdades, colando-o aqui e ali. Em Duque de Caxias, RJ., foram mimeografadas duas mil cópias dele e distribuídas indiscriminadamente ao povo. Telegramas e cartas congratularam-no. Era o  nosso presente. 

César de Araújo.

domingo, 30 de janeiro de 2011

Dia da saudade, 30 de janeiro

[...] saudade é arrumar o quarto do filho que já morreu. Chico Buarque

[...] saudade é vontade de ver de novo. Lupicínio Rodrigues

[...] saudade é o caminho pra voltar. Roberta Miranda

Raízes e perspectivas do Brasil



Raízes e perspectivas do Brasil / Celso Furtado, Hélio Jaguaribe, Sérgio Mascarenhas, Miguel Reale e José Reis. - Campinas/SP: PAPIRUS - Editora da UNICAMP, 1985. 100 páginas.

[... A Universidade, no ato espontâneo de resolver seus próprios ´problemas, não deve perder de vista a oportunidade de considerar conjuntamente os problemas globais da sociedade em que está inserida...]

O livro Raízes e perspectivas do Brasil, é cria do I Fórum Unicamp, intitulado Raízes e Perspectivas do Brasil, numa tentativa de retomada do debate aberto a meio século com o historiador Sérgio Buarque de Holanda em Raízes do Brasil, só que agora sob a luz da realidade objetiva dos nossos dias.

Cinco textos memoráveis: Desenvolvimento e cultura, por Celso Furtado; Raízes do Brasil e a transição para a sociedade de massas, por Hélio Jaguaribe; Raízes filosófico-jurídicas da sociedade brasileira, por Miguel Reale; Raizes da ciência no Brasil, por José Reis e, Perspectivas da ciência no Brasil, por Sérgio Mascarenhas, organizador da Obra.

Luiz Humberto Carrião

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Por um ideal

Exemplar da raça Gir originária da Índia
“Aquilo que é objeto da mais alta aspiração; o modelo idealizado ou sonhado pelo artista”

De chifres posicionados nas linhas dos olhos
Com saída rumo ao chão, 
Dando meia volta para trás 
Expressando as linhas de sua convexidade craniana 
Em harmonia com orelhas em tubo 
Fazendo reluzir faíscas 
Provocadas pelo atrito de seus gaviões, 
Num caminhar lento, 
Onde as patas traseiras 
Ocupam o espaço deixado pelas dianteiras, 
Em movimentos sincopados, 
Com o rabo varrendo,
No chão,
As marcas do tempo,
Ao tempo em que chora
A intervenção humana em sua beleza,
Eu choro o medo
De perder o prazer de ser Girista.

Luiz Humberto Carrião

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

1930, a revolução disfarçada


1930, a revolução disfarçada / Daniel H. de Medeiros. - São Paulo: Editora do Brasil, 1989. - (coleção lutas do nosso povo), 37 páginas.

Um texto enxuto, não construído em cima de informações históricas, e sim, sobre a análise do pensamento e ação de homens e grupos políticos de então. Tomando por base a “proclamação da república”, a aliança fazendeiros do café e exército brasileiro constrói a estrada que levaria a outubro de 1030.

O autor dispensa a “compendiosa” da história do mês de outubro: “Se há algo de menor importância neste contexto é a descrição deste mês revolucionário, em que o país sofreu, de ponta a ponta, pelo tremor das armas e da incerteza quanto ao futuro. Sobre o movimento armado no Rio Grande e Minas, que tinha até data marcada para começar e, o que é espantoso, cumpriu a risca o seu cronograma como se fosse uma atividade festiva, resta uma reflexão: o país fora mais uma vez enganado! Disfarçado de revolução, o golpe de outubro de 1930 alçou ao poder membros da elite mais reacionária, ex-membros do estado mais repressor e fraudulento, militares legalistas aproveitadores, que a vida toda haviam apostado no passado e que, perdido o jogo, bancavam a jogada do futuro com dinheiro emprestado. O povo, iludido e convencidos da necessidade com a burguesia (como ditava Lenin), foi o que mais sofreu. Iludidos por reformas de caráter eleitoreiros (apesar de parcialmente benéficas), os operários santificaram o homem que jogava com eles, o “pai dos pobres”, travestido de roupa de “mãe dos ricos”. Sonho e realidade.

Luiz Humberto Carrião

Brizola, momentos de decisão


Brizola: momentos de decisão/Carrion Jr. - Porto Alegre/RS: L&PM editores, 2ª edição, 1989. 73 páginas.


O livro lançado no ano de 1989, em que Brizola concorria à presidência da república, contextualiza sua atuação política e administrativa dentro das questões nacionais, como a Campanha da Legalidade, que garantiu a posse do constitucional do presidente João Goulart, em 1961; sua atuação legislativa e de líder político-partidário e informações sobre os dois governos estaduais que exerceu o primeiro no Rio Grande do Sul e o segundo no Rio de Janeiro. 


Uma passagem define bem o personagem central: “A revolução de 1923, às vésperas da qual nasceu Brizola, foi uma das mais sangrentas da História do Rio Grande, marcada toda ela por guerras de fronteira e revoluções internas. O agricultor e tropeiro José Brizola, pai de quatro filhos e uma filha, fazia parte do exército de Leonel Rocha, partidário da Aliança Libertadora, contra a reeleição do governador gaúcho Borges de Medeiros. Foi só em dezembro de 1923 que foi firmada a paz, com a assinatura do Tratado de Pedras Altas, pondo fim a uma revolução que se iniciara em janeiro e ensangüentara o Rio Grande do Sul. Seguiu-se a desmobilização, devolvendo aos seus lares aqueles que haviam sobrevivido à luta, ainda que persistisse um clima de guerra, com muitas vinganças. Foi neste cenário que aquele agricultor pobre foi arrancado de sua casa, e aprisionado por uma coluna governista e morto no caminho da sede do destacamento. Seu último pedido foi a um tropeiro amigo, de nome Otávio, que cuidasse de seu filho mais novo que, nos braços da mãe Oniva, ainda seguira a coluna por mais de légua. O guri ia ter o nome de Itagiba de Moura Brizola, mas depois que sua irmã Francisca o encontrou brandindo uma espada de madeira e dizendo “eu sou Leonel Rocha”, seu nome terminou sendo Leonel de Moura Brizola.


Luiz Humberto Carrião

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

O apocalipse desvendado



Uma tarefa das mais difíceis é tecer comentário sobre um livro, principalmente, quando é necessária uma vigilância para que a amizade com o autor não venha influenciar naquilo que está sendo analisado. Fui professor de História, aprendi a analisar fatos históricos, por conseguinte, não tenho pretensões de esboçar aqui uma crítica literária, e sim um singelo comentário sobre o Livro O APOCALÍPSE DESVENDADO do escritor Ortian Motta, Editado pela Kelps, Goiânia, 2009.


“O prazer engravida, mas é sofrimento que faz parir” diz o poeta Willian Blake. O homem é o único animal do reino com capacidade de estabelecer relações em si mesmo, nos demais, a relação é estabelecida de maneira quase mecânica com a Lei que estabelece e mantém a harmonia do universo, Deus.

É nesta linha que Ortian Motta, faz de O APOCALIPSE DESVENDADO um testemunho. Criado em uma família evangélica, aos 16 anos distanciou-se de sua formação cristã. Carros, motos, mulheres, bebidas o “engravidaram”. A Síndrome do Pânico trouxe o “sofrimento” até que um acidente que quase lhe custou a vida o fez renascer à orientação familiar.

“Além da ruptura causada no relacionamento com Deus e no relacionamento com o próximo, os homens deste mundo são pessoas que não amam se quer a si mesmas, que entram em conflito consigo mesmas, pois, se realmente amassem a si, amariam a Deus e ao próximo. Ao se deixar levar pelo pecado, os homens do presente século passam a “andar segundo a carne” (Rm 8,I), ou seja, fazem apenas o que lhes manda a natureza pecaminosa (pois isto é que é a carne), natureza pecaminosa que tem como único fim levar o ser humano para a auto destruição.”

Sua formação de economista e estudioso da escatologia contextualizou o mundo globalizado no Apocalipse, onde algumas advertências citadas, como Ap. 2.14: [...] por que tens lá os que seguem a doutrina de Balaão, o qual ensinava Balaque a lançar tropeços diante os filhos de Israel, para que comessem dos sacrifícios da idolatria, e se prostituíssem. “-podem ser entendidas como a contaminação da grande Babilônia, que reina sobre todos os povos da terra, que tudo que se vende neste mundo tem sua prostituição. Como exemplos, temos as Tvs, revistas e outros veículos de comunicação, que levam para dentro de nossas casas uma contaminação sem precedentes na história da humanidade. Balaão ensinava que se colocassem as dançarinas com músicas, bebidas, comidas e idolatrias, conseguiriam perverter os caminhos dos filhos de Israel. Ora, isto é somente o que ensinam hoje: sexo, droga  e rock in rol, samba e cachaça. Estes apelos são a tona de toda publicidade, e o que mais a sociedade aprendeu a vender e a população a comprar [...] Pela sua formação profissional imagino o preço que pagou por essa interpretação.

Dois vetores são utilizados para a interpretação do Apocalipse pelo autor: a análise do tempo para desvendar os mistérios escatológicos e a análise da ciência como “a principal adversária da fé e que se imporá cada vez mais no tempo”.

O APOCALIPSE DESVENDADO é uma obra de leitura de um fôlego só. Abrange um tema que aguça: Como e quando será o fim?


Luiz Humberto Carrião

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Eis a questão...


Martins, Paulo Guilherme, Eis a questão.../edição única/Paulo Guilherme Martins/Santos-SP, 1959. 56 páginas

Só pela nossa emancipação econômica poderemos criar as condições necessárias à solução dos problemas político-sociais, e propiciar o ambiente favorável ao desenvolvimento do sentido ético e estético da vida.

Essa crença foi a determinante deste pequeno trabalho antológico, contendo uma história  muda, e idéias sobre as relações econômicas internacionais.

Paulo Guilherme Martins
Santos, primavera de 1959

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Armazéns divinos e boticas humanas

 “Se banirmos da superfície da terra o homem ou o ser pensante e contemplador, este espetáculo patético e sublime da natureza não é mais do que uma cena triste e muda; o universo cala-se, o silêncio e a noite dele apoderam-se. Tudo se transforma numa vasta solidão onde os fenômenos inobservados se passam de uma maneira obscura e surda. É a presença do homem que torna a existência dos seres interessantes”. Denis Diderot (1713 - 1784) 


Qual a finalidade do homem na contextualização do planeta Terra ou mesmo diante do Espaço Sideral, senão dar vida ao Mundo de Deus?

O trabalho, a arte, a música, a poesia, a ciência, o amor, são provas existenciais da individuação racional humana.
 
O trabalho lhe deu a diferenciação;
A arte a expressão;
A música a divinização;
A poesia a personificação;
A ciência a experimentação;
O amor a coroação.

Ao injetar em si o soro manipulado pelas boticas teológicas, o homem imuniza-se do Cristo e aproxima-se de Jesus (no sentido humano). 

Então,

Do trabalho extraiu a exploração ;
Da arte a profanação;
Da música a banalização;
Da poesia a ficção;
Da ciência a dominação;
Do amor a humilhação.

“Quando me vi, corri aos grandes armazéns divinos, mas não encontrei ainda vestido algum para cobrir a minha vergonha de ter perdido Deus”. Eduardo Lourenço de Faria (1923 -)

Luiz Humberto Carrião 

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Conceito e Preconceito

Num programa de TV, um professor falava da importância da maturidade cultural no entendimento de um conceito, para que o mesmo não se transforme em preconceito. Ilustrou com a seguinte história: quando se dirigiu pela primeira vez a uma sala de aula e o professor falou em reis e rainhas, levantou a mão e disse: _professor, tenho uma Tia princesa. O professor do alto de sua autoridade intelectual sorriu e continuou sua fala. Insistiu: _professor, minha Tia é uma princesa! Diante da indiferença, calou-se durante muito tempo. Quando já cursava o ginásio, numa aula de História do Brasil, voltou a falar da Tia, mais uma vez em vão. Isto nunca lhe saiu da cabeça. Como acreditar que um negrinho de “pés no chão” pudesse pertencer a uma realeza no Brasil? Hoje, compreende que culturalmente sua Tia era uma princesa. Uma princesa do Congado de sua cidade natal. Mas era uma princesa. Uma legítima princesa.

Luiz Humberto Carrião

Mercado Popular Goiânia, Rua 74, Centro

Deu no blog do Lisandro. Sobre a vida: “Para celebrar o meu envelhecimento, certo dia eu escrevi as 45 lições que a vida me ensinou. É a coluna mais solicitada que eu já escrevi”, Regina Brett, 90 anos de idade, The Plain Dealer, Cleveland, Ohio.

Na lição de número 43, Regina ensina: “Não importa como você se sente, vista-se bem e apareça”.

Assim presenciei toda uma população, a maioria na chamada 3ª idade, no espaço do Mercado Popular, que após ter sido ocupado pelo evento da casa Cor em Goiânia, imprimiu com a Prefeitura Municipal, através da Secretaria Municipal de desenvolvimento Econômico (SEDEM), shows dançantes de terça a sexta-feira, contemplando cada dia um gênero musical diferente, da seresta ao forró.

Embora o mercado tenha 30 salas de exposição de produtos variados, com essa programação, gourmets especializados adquiriram ali espaço para servir os freqüentadores. Sempre cheio fazendo a alegria de brancos e negros, pobres e ricos, trabalhadores e aposentados, solteiros e casados, cumpria um papel social extraordinário a ponto de se tornar uma referência turística da cidade.

Estive lá, quarta-feira, 13, e não encontrei o brilho de antes. Alguns estabelecimentos fechados, poucos freqüentadores, banheiros sujos. Então pensei: Será que a novela global que terminou ontem, 14, possui tamanha audiência a ponto de segurar as pessoas em suas casas? Ou seria o tempo chuvoso?

Nada disso! Aquele espaço funciona atualmente de maneira precária, com os permissionários assumindo a conta, confidenciou-me um deles com certo tom de tristeza. Dizia que na gestão de João Paiva, a Prefeitura Municipal tinha participação mais efetiva, citando, por exemplo, a contratação dos artistas, a divulgação na mídia e mesmo com a higienização do espaço.

Um segundo entra na conversa afirmando que de segunda a sexta as caras eram as mesmas, sejam dos dançarinos, dos galanteadores e das jovens senhoras que ali desfilavam seus penteados e suas grifes, dos que chegavam mais cedo para bebericar num fim de tarde. Tudo isso, seu moço, está acabando.

Não entendo o porquê do poder público não se interessar por projetos como esses. O que se encontra em atividade no Centro Municipal de Cultura (antigo Cine Ouro), na Rua Três, Centro, ou mesmo o que ocorre defronte o Grande Hotel, na Avenida Goiás, atende a públicos diferentes.

Proporcionar de maneira gratuita lazer para a população, que hoje se encontra envelhecida, chega a ser uma questão de saúde pública. Esses projetos combatem o tédio, o estresse, a depressão. Proporcionam reencontro de amigos, geram novas amizades, além de verdadeiro palco para que as pessoas não se importem como se sentem, vestem-se bem e aparecem.

Luiz Humberto Carrião 
Publicado no Jornal Diário da Manhã, Goiânia - Goiás, Edição de 17/janeiro/2011 

A pregação do Padre Zezão

Você caro leitor, conhece algo mais enfadonho do que festa de formatura nos dias atuais? Antecipo sua resposta: Não.

Normalmente são mais de 150 graduandos por fornada. E aí começa aquela lista de chamada interminável, sempre seguida individualmente pelos gritos histéricos de um parente ou amigo do formando. Se não bastasse, uma homenagem a fulano, outra a beltrano, mais uma a sicrano e por ai vai... Quando imaginamos que a cerimonial chegou ao fim é hora de novamente chamar um por um para dar um abraço nos pais, e novamente, aquela lista de nomes seguida de aplausos e gritos inexplicáveis.

Noutro dia fui a uma dessas formaturas. Tudo o que já foi narrado e mais algumas coisas aconteceram. Mas uma algo diferenciou e tirou aquele evento da mesmice responsável por essas criticas: o culto ecumênico. Mais precisamente a fala de um padre, representando a Igreja Católica que, a princípio, quando anunciado não cheguei a me impressionar com a figura, a começar pelo nome: Padre Zezão. Conheço o Padre Zezinho, aliás, dois, não três, mas Zezão. Perai! E não é de ver que o danado me surpreendeu.

Num culto ecumênico da PUC – Goiás, falando aos graduandos de direito, iniciou sua fala dizendo que havia sido alfabetizado aos 18 anos pelo MOBRAL – Movimento Brasileiro de Alfabetização – e que foi a partir de então que teve a oportunidade de conhecer o papel para escrever e o higiênico, oportunidade em que teceu um agradecimento merecido ao sabugo de milho. Falou com orgulho de seu curso de madureza, depois chamado de supletivo, terminando com seus longos 9 anos de estudos de filosofia e teologia na cidade de Belo Horizonte.

Não foi hipócrita, admitiu ter adentrado para o seminário para estudar e depois, buscar a vida longe do celibato, mas felizmente aconteceu o “chamado” e então resolveu assumir por inteiro a nunca existida vocação.

Com tantos anos de filosofia e teologia, imaginava uma designação por parte do Bispo Diocesano para a capital de seu estado, mas não, foi designado para uma minúscula cidadezinha no interior do Estado.

Lá chegando tratou logo de anunciar a primeira missa. Afiou a filosofia e a teologia e para sua surpresa, somente uma pessoa estava presente na igreja para assistir a celebração. Achou aquilo um abuso. Virou-se para o fiel e disse:

_ Me desculpa, mas eu não vou celebrar uma missa para um único fiel.

Preservando o respeito peculiar ao padre, o fiel retrucou:

_ Seu padre, me desculpe, eu trabalho numa fazenda na lida de gado. São 600 cabeças. E quando eu vou levar sal a eles, se tiver uma só cabeça, jamais deixarei de salgar o cocho.

Aquela sabia e ilustrada repreensão mexeu profundamente com o brio do recém chegado representante da igreja. Vestiu os paramentos e sapecou uma missa de 2 horas.

Terminada a celebração, novamente outra observação do fiel:

_ Padre, caso eu vou salgar um cocho para 600 animais e lá só tiver um, eu não deixo de fazer minha obrigação, mas não coloco todo o sal no cocho...

Luiz Humberto Carrião 
Publicado no Jornal Diário da Manhã, Goiânia - Goiás, Edição de 13/janeiro/2011