quinta-feira, 31 de março de 2011

O PEQUENO PRÍNCIPE EM NÓS, uma jornada de descobertas com Saint-Exupéry



O pequeno príncipe e nós: uma jornada de descobertas com Saint-Exupéry / Mathias Jung, tradução de Marcos Malvezzi Leal. – Campinas, SP: Verus, 2009, 105 p.

            Não se trata simplesmente de uma análise de psicoterapeuta sobre um livro, O Pequeno Príncipe;
 mas de uma obra que nos Estados Unidos, mais de cem mil exemplares são impressos por ano;
            na França, mais de trezentos mil;
            na Alemanha, o número total de impressões chega a aproximadamente sete milhões.

***

Mathias Jung demonstra o porquê de esse personagem fascinar gerações e gerações;
é que, em cada um de nós se, oculta uma pequena parte Dele.

“Quando descubro o Pequeno Príncipe em mim, a morte perde o poder, e a vida se ilumina com a cor da rosa – o amor, Mathias Jung.

***

            Quando vão ensinar às nossas crianças na escola
            O que elas realmente são?
            A cada uma delas, deveriam dizer:
            Sabe o que você é?
            Um milagre!
            Você é única!
            No mundo todo não há uma segunda criança que seja
            exatamente como você.
            Um milhão de anos se passou
            sem que existisse outra criança igual a você.
            Olhe seu corpo, que milagre ele é!
            Suas pernas braços, dedo indicador,
            seus passos.
            Você pode se tornar um Shakespeare,
            um Michelangelo, um Beethoven.
            Não há nada que não possa ser.
            Sim, você é um milagre.
            E como poderia, quando crescer,
            causar sofrimento a outro
            Que também é um milagre?

 *  Pablo Casal, violoncelista espanhol definindo o segredo de O Pequeno Príncipe, para Mathias Jung, 
de maneira incomparável!

Luiz Humberto Carrião

sexta-feira, 25 de março de 2011

MITO, SONHO E LOUCURA



Jornalista conhecido nacionalmente como o maior biógrafo do ex-presidente Jânio da Silva Quadros, tendo publicado 10 livros sobre a vida daquele que para o escritor “representou a maior bofetada que as elites brasileiras já receberam.”

Mestre em Ciências da Comunicação pela Fundação Cásper Líbero e Doutorado em Comunicação e Artes pela Universidade Mackenzie, pesquisador e especialista em Psicanálise, Nelson Valente em Mito, Sonho e Loucura surpreende.

Escrita em linguagem simples e de fácil compreensão retrata de maneira até didática a História e as Teorias da Psicanálise.

Tomou como referência Sigmund Freud, e não poderia ser diferente, mas de maneira consciente e com um conhecimento de causa que dá credibilidade.

Narra a História da Psicanálise desde os tempos remotos, onde acreditavam ser as doenças mentais causadas por espíritos malignos, ou por pecados de outrem, valendo-se como exemplo as práticas de sangria e trepanação e o caso ocorrido com Jesus em Betsaida, onde após curar um cego recebeu dos fariseus e escribas a seguinte pergunte: “que pecou, ele ou seus país?”, até a proposta atual da adoção de uma Psicoterapia preventiva, isto é, a higiene mental.

Nem tudo Freud explica.

Luiz Humberto Carrião

quarta-feira, 23 de março de 2011

Elizabeth Taylor


O mito não pode presidir a História [royalties a Vargas Vila], como Cleópatra o fizera em todos os Compêndios escolares até que Elizabeth Taylor a personificou como um ser humano;
            o filme Cleópatra, 1963, realizado por Joseph Mankiewicz, fez com que a artista interpretasse o Mito dentro de sua compreensão humana;
            com sua alma de mulher e beleza de uma Deusa;
           
***

            Liz deu a Cleópatra, no imaginário popular, uma beleza que a rainha nunca teve: cútis ariana, cabelos latinos e olhos cor violeta;
            Sua competência de atriz fez com que sua interpretação popularizasse uma rainha álgida que traz em sua biografia toda a palidez de um cadáver para alcançar seus desejos.

***

            Um milhão de dólares recebeu Liz pela interpretação, num filme de orçamento de 44 milhões de dólares, àquela época.

***
           
            Ativista por vocação foi a primeira Celebridade Hollywoodiana a abraçar a causa da AIDS;
            o que embelezou ainda mais sua biografia.

****

            Quis o seu coração parar de bater no início da primavera americana, período em que as árvores renascem;
            as plantas florescem;
            como as violetas, trazidas em seus olhos.
           
Luiz Humberto Carrião

segunda-feira, 21 de março de 2011

Vargas Vila, O CAMINHO DAS ALMAS


O caminho das almas, Vargas Vila. Tradução de Galvão de Queiroz. -- Editora Prometeu, São Paulo, 1956, 167 páginas.

Hora meditabunda!
Do alto contemplava a ordenação magnífica do Universo, incendiando somente os arranha-céus erguidos do lado onde nasce o sol;
a luz poente que os iluminavam fazia transformar em ouro tudo o que estava ao seu alcance;
no chão, os automóveis num constante vai e vem deixando pela avenida Marginal paralelas invisíveis aos olhos humanos;
no céu, os urubus plainavam num espetáculo fascinante numa coreografia que um dia levou o homem a vencer a força da gravidade e colocar no ar o aeroplano;
foi visualizando esse espetáculo que os malabarista do ar inspiraram a esquadrilha da fumaça, acrobacia aérea de coragem, risco e beleza;
sobre uma mesa de madeira em treliça, pintada de branco como as duas cadeiras que a cercava, um livro: O caminho das almas, 167 páginas devoradas por um leitor contumaz;
seu olhar perdido no horizonte denunciava a perplexidade de diante de uma construção literária diferenciada, com ambientes bem descritos, o mesmo podendo dizer de seus personagens;
porém, com o enredo mergulhado em Tragédias, cuja Dor sempre levando ao mesmo desfecho, a Morte!

***

Criar é o dever de todo Artista;
o Poeta é “aquele que cria”, disse o grego;
e quem diz Poeta, diz Artista;
não há poeta verdadeiro, fora da Arte;
e não há artista verdadeiro fora da Poesia;
“criar” normas de Beleza, eternas e vivazes, feitas para resistir ao embate de sombras dos séculos;
“evocar” formas de Beleza intangível, esparsa pelo mundo espiritual, em átomos de esplendor; fixar essa Beleza em modelos imperecíveis, que forcem o assombro, a admiração e a gratidão dos séculos por vir;
Ser um “Construtor de Imortalidade”;
É ser Artista...

***

O que levaria um Artista, como ele bem o define a
“criarnormas de Beleza, eternas e vivazes, feitas para resistir ao embate de sombras dos séculos, tendo como matéria-prima a Tragédia?
“evocar” formas de Beleza intangível, esparsa pelo mundo espiritual, em átomos de esplendo; fixar essa Beleza em modelos imperecíveis, que forcem o assombro, a admiração e a gratidão dos séculos por vir; tomando como referência a Dor humana?
serum “Construtor da Imortalidade”
 é ser Artista... artista de Construção da Imortalidade feita através da apologia à Morte? Do suicídio?

***

            Ah! Poeta de construção literária inconfundível, para quem
            a “nouvelle” é um produto essencial e refinado da sensibilidade estranha, de observação aguda, de emoção passional e de sutileza estética, que requer mais pureza de linhas, mais diafeneidade de horizontes, mais graça no colorido e maior delicadeza no fundo da paisagem psíquica, que são necessários à ampla construção de um “Roman”;
            ah! Artista “divino” que optou a  
            deixar o bloco de mármore, que é a carne dos deuses, e fazer-se ceramista do espírito para dar às suas criações a fragilidade rara de uma flor;

***

            Afirma serem suas obras
            um Museu de Almas...
            isso tem sido, e são, os meus trinta grandes romances de “Flor Del Fango” a “Cachorro de león”;
            e estas pequenas novelas;
um Museu de Almas também;

***

Almas amargas a percorrerem os mais sombrios e gelados labirintos do Universo;
almas que tiveram seus sonhos homicidados ou suicidados pelo poeta, que não soube compreender que a harmonia melódica de um Prelúdio de Bach, só é possível pela adversidade de notas e tons existentes no teclado de um Cravo;
ou quem sabe, poeta, faltou-lhe o Lexapro, esse escitalopran antidepressivo inibidor da recapitação de serotonina.

Luiz Humberto Carrião 

quinta-feira, 17 de março de 2011

José, um homem além de seu tempo



Ao tomar Jesus em seus braços, José compreendeu que sua paternidade era muito além de humana;
            se o Filho teve que encarnar-se homem para mostrar à humanidade que é possível a Auto-realização;
            o pai adotivo, veio para afirmar com seu gesto, que a paternidade não é , em absoluto, pertencente àquele que gera, mas também àquele que cria.

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            Na antroponímia, José, do Hebraíco, significa aquele que acrescenta;


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            Na salvação da humanidade, deu nome a Jesus e o fez descendente da Casa de Davi para que as profecias se cumprissem;
            acrescentou!

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            Homem de Fé inabalável;
            Silenciosamente, teve seu encontro com o Criador, respeitando seus mistérios.
            Nas Escrituras, nenhuma palavra por ele pronunciada;

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            Último patriarca entre os hebreus;
            último Elo de ligação entre o Velho e o Novo Testamento;
            cuja caminhada de encontro do seu destino final, a morte, ocorreu, segundo os teólogos-historiadores, três anos antes da crucificação de seu Filho, Jesus;
             era necessária a morte do Pai adotivo, para que o Filho Legítimo realizasse suas obras.

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            Cultuado primeiramente no país ao qual com Maria e o menino Jesus, fugiu da brutalidade romana, o Egito, para depois alcançar o Ocidente.

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            No ano de 1870, pelo Papa Pio IX, Giovane Maria Mastai-Ferretti foi proclamado Santo e padroeiro da Igreja, venerado em 19 de março;
            João XXIII, Angelo Giusepe Roncalli, o inseriu no Cânone Romano;
            e, Oxalá, no sincretismo afro-religioso, identifica-o como Xangô Aganjo.

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            Quando as águas de março vão fechando o verão, comemora-se José;
            e também a entrada do outono;
            enquanto chuvas fortes não deixam frutas nos pés;
            com a enchente lavando a beira de riachos;
            aumentado as águas dos rios;
            e adoçando as águas do mar;
            os devotos do Santo recorrem ao seu Altar com 19 saquinhos de pano
com moedas para que não lhes faltem dinheiro durante o ano.

Luiz Humberto Carrião

terça-feira, 15 de março de 2011

Vargas Vila, DOS VINHEDOS DA ETERNIDADE



Dos vinhedos da ETERNIDADE (romance) / Vargas Vila. – 1ª Edição. São Paulo. Tradução de Galvão de Queiroz. Coleção “Eros”. Editora Prometeu. 1955. 175 páginas.

Vargas Vila foi o primeiro escritor estrangeiro com o qual tive contato através da obra Aura, ou as violetas, publicada pela Editora Prometeu;
era eu, ainda uma criança e apaixonei-me pelo seu romantismo de frases bem elaboradas quase sempre tocando profundamente as almas juvenis.
Sua composição estética me fascinou.
A solidão que me guiava, longe dos meus pais e irmãs, provocada pela hipocrisia daquela que um dia me “pediu” à minha mãe, e depois me jogou neste mundo cruel e nefasto, me fezendo ver nas coisas humanas, um misto do ridículo e da miséria;
e, em Deus, toda a responsabilidade pelas dores do Mundo;
u'a vontade do fim, em pleno alvorecer de minha vida e em meio a caminhada dos sonhos de mudar o mundo com Martir Luther King, Che Guevara, Bolívar, Lumumba, Ho Chi Ming, John Lennon, Geraldo Vandré;
algumas flores do jardim da História.

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Inexperiente, pouco familiarizado com a dor, seu estilo me seduziu de maneira irresistível.
Como não pensar em buscar o pensamento doce e capaz de reconciliar-me com o meu destino final, a morte?
reconciliar o miserável com o seu destino era reduzir a cinzas meu cérebro;
 era matar a Deus;
 esse Ser “então” injusto, cruel e desumano.

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Para Vargas Vila, Deus não vive senão ali;
 no cérebro;
é uma criação humana.

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Como conviver com a Solidão,
se o sentido Vargavileando ao termo Solitário não é ter ninguém perto de si;
e sim, não ter ninguém dentro de si?

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Eu tinha meus pais e minhas irmãs, família da qual eu havia sido apartado, mas que se conservava em perfeita Harmonia como os acordes da “divina música”, sob a batuta do maestro que era meu pai, em anúncio à Hora Sagrada;
e a incredulidade em Deus, por não aceitá-lo antropomórfico, que batia de frente com a convicção deísta carregada em meu genoma.

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                A Natureza não tem uma alma; é o artista que lha dá; e uma obra de arte é isso: a alma do artista refletida em a Natureza, afirma Vargas Vila;
quem é esse artista que dá alma à natureza, indaguei por diversas tardes quando o beijo frio das Virgens Mortas  gelava-me a face.

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Os servos da gramática não têm mais talento do que a sua servidão ao dicionário e, como todos os escravos, não se conformam com sofrê-la, mas querem impô-la;
assim ensinava Vargas Vila, mas, na condição de um Servo da Gramática que o escritor Sebastian Faure trabalhou os 12 argumentos do livro Provas da Inexistência de Deus, Editora Germinal, RJ, 1958, na tentativa de justificar o Ateísmo.

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Numa sensibilidade de profusão de imagens que faz pensar em Vitor Hugo, alternada pelo humor cáustico de Lesage, Swift ou Voltaire;
 segundo Turiello, a obra de Vargas Vila permanece diversa e multiforme, compreendendo romances, contos, ensaios históricos e políticos, filosofia e versos, com toda robustez e profundidade de seu autor a espalhar a amargura, pessimismo, ateísmo e induzindo ser o suicídio uma opção de liberdade: “destruir é mais glorioso do que criar [...] a vida é terrível, mas a morte, sob qualquer forma que seja não deve inspirar medo a ninguém”;
basta recorrermos aos agentes de polícia do Panamá, sobre cujos cadáveres foram encontrados dois bilhetes com a seguinte frase: “Procurem a causa de nosso suicídio na página 229 de “Ibis”, de Vargas Vila;
ou em Goiânia, onde um jovem de descendência Turca, no início da década de 70, do século passado, se atirou do 13º andar do Edifício Princesa Isabel, na Avenida Goiás, Centro, quando lia “Lírio Vermelho”, do mesmo autor.

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Dos vinhedos da Eternidade, segundo Vargas Vila, contém e revela suas mais atrevidas ideologias; toda a sua filosofia, toda sua ética, toda a sua antiética, assim como seus pensamentos em história e o conceito emocional e passional que tem pela Vida.

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Vargasvileando em Dos vinhedos da eternidade:

Nos olhos de certas mulheres há tanta tristeza, tal névoa de tragédia, que se diriam lagos onde flutuasse um cadáver;
hoje vi uns olhos assim;
e eu poderia dizer o nome do morto que lá flutua...
é sempre o mais belo túmulo, um coração que não sabe esquecer ...

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Assegurar que a alma é imortal é o orgulho dos pobres mortais que não têm alma.

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A característica de um homem de princípios é que não tem nunca um fim.

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Não vencer é um triste drama;
mas vencer é a pior das tragédias.

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Ler coisas apaixonadas, eis o que desgosta enormemente das pessoas sem paixão...
 imaginai a angústia de um eunuco vendo a cena de um defloramento.
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De todas as criações do homem, talvez tenha sido Deus a mais fatal.

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O Verso foi a forma mais harmoniosa de expressão, mas não a mais perfeita;
 foi a linguagem dos povos primitivos;
a prosa, rompendo o diapasão do Verso, libertou o pensamento dos entraves métricos e lhe deu u’a musicalidade mais consistente e mais sonora; uma beleza viril de que havia carecido até então;
a aparição da Prosa, não vencendo, mas dominando o Verso, foi a mais transcendental de todas as evoluções da linguagem humana;
a Prosa foi, como disse Quincey, “a descoberta de alguns homens de gênio”;
houve mais que um processo técnico; houve um processo estético, nessa evolução;
ao se alargar o Pensamento do Homem.alargaram-se os seus meios de expressão;
 o caudal das novas sensações procurou um leito de mais amplas expressões, e a Poesia, saída do leito metrificado do Verso, fez-se o rio harmonioso e correntoso da Prosa;
todos os afluentes da beleza falada entraram nele, e por ele correram;
deixou de murmurar, passando a cantar os espetáculos múltiplos que refletia em suas ondas.

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                [...] só a Verdade da pedra é incorruptível...

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Há duas coisas a que não é possível abrir nem fechar a porta: o Amor e a Morte;
chegam ambos à hora precisa e se apoderam de nós, sem que nada nem ninguém nos possam livrar do seu império.

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Quando Deus morre em nosso coração, os céus e o Vazio se fazem maiores, por que
Já não têm nada que os encha... Deus é, verdadeiramente, a mais bela das ilusões... por que é necessário que ele morra, para que sejamos livre?

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                Todo amor aos demais é uma traição a nós mesmos.

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                O verdadeiro artista não vê as coisas tais como são, mas tais como estão em seu cérebro; como ele as vê, em sua concepção primordial, adaptada à visão ambiente.

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                Não nasci musico de outro instrumento senão da palavra; é a única harmonia que possuo, e a única que me seduz; os demais ruídos me são indiferentes ou desagradáveis.

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                Os plagiários podem roubar nossas palavras e nossas idéias, mas não podem roubar nosso talento; esse é o seu desespero e o seu castigo.

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                Deus nasce, vive e morre, com o Homem; nenhum morto crê em Deus ...

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                O Suicida!... eis aí um acusado que não pode ser julgado senão pelos seus pares.

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                Uma angústia renovada: isso é a Vida.

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                [...] amante seria o animal mais insuportável do mundo, se não existisse a esposa [...]

***

                A terra nos dá seus frutos e seus perfumes; que lhe damos nós? Nossa podridão;
até nisso somos ingratos com todas as entranhas maternais.

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                O ideal é mutável; só nosso destino é permanente.

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                [...] mas o verdadeiro sentido da palavra Solitário é não ter ninguém perto de Si, mas sim não ter ninguém dentro de Si, dentro de seu próprio coração;
todo amor mata a Solidão, porque dela compartilha.

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                A Palestina foi o último refúgio da nacionalidade hebréia ante a invasão romana;
que melhor teatro para nele morrer aquele derradeiro mártir da nacionalidade hebraica que foi Jesus?

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                Por que separar a Civilização da revolução?
                uma revolução justa é a civilização em ação.

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                É sendo Homem de Partido que se chega ao Poder;
Mas é deixando de ser homem de partido, que se conserva o Poder;
os traidores também o sabem;
e o praticam.

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Só aquele que muito ama seus filhos, ou muito ama seus livros, pode avaliar a dor que é perder um deles...

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                Há amores que morrem, mas não se sepultam;
                seu cadáver insepulto se chama ódio.

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                Só a Dor faz a Vida bela.

***

                O Amor que fecunda, já não é Amor; é a Paternidade;
                uma virtude social muito vulgar e muito estimável, sem dúvida, mas de encantos duvidosos para as almas delicadas.

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                O amor não ama a sinceridade;
                ser enganado é o primeiro elemento de sua Ventura.
***

                Só em amores espirituais há traição;
 em amores carnais não há senão fantasias.

***

                É a idéia quem dá força à Palavra;
                mas, é a palavra que dá beleza à Ideia;
                unir a beleza da forma à força do Pensamento, é ser verdadeiro Pensador.

***
               
                Todo vencido é augusto, porque a derrota é o mais cruel dos decretos do Destino.

***

                É o Amor, não a Beleza, o que embeleza o ser amado.

***

                O Amor, feito Dever, já não é Amor, é o Casamento;
                o maior, o mais vulgar e o mais pesado de todos os deveres.

***

                O Amor não cria direito nem deveres;
                e se os cria, já é Lei, não é mais Amos;

***

                O Amor é a lei da espécie, e por isso não reconhece nenhuma outra espécie de lei.

***

                [...]
o mito não pode presidir a História;
os deuses são um acidente na Vida do Homem;
são a causa de quase todos os males da História, mas não são a História;
o Historiador, como um novo Ezequiel, sopra sobre o pó das nações mortas, e as ressuscita;
com elas ressuscita o pó dos deuses, não para que ditem juízo sobre os homens, mas para que ouçam em silêncio o juízo que os homens ditaram sobre aqueles...
a presença de Deus não explica a História: complica-a;
é preciso desterrar Deus da História, para que surja a Verdade...
como é preciso desterrá-lo da Vida, para que surja a Liberdade.

***

                O Cristo não fez senão ensinar-nos uma nova escravidão: a do Espírito;
                e, para nos dar o consolo da Esperança, impôs-nos o jugo da Fé...

***

                O cinismo e a Hipocrisia são duas virtudes cristãs.

***

                Não se ri, beijando os cadáveres.

***

                Toda idolatria é uma escravidão.

***

                A morte não nos atraiçoa.

***

                A mãe da Ciência não é a certeza;
                a mãe da Ciência é a Indagação;
                Ciência e Adoração se excluem;
                uma Ciência de joelhos, como poderia caminhar?
                e uma Ciência imóvel seria como água estagnada;
                acabaria por se corromper e por nos corromper;
                como uma religião.

***

                É por causa da religião que o homem se envileceu tanto;
 a teoria do Pecado Original, que faz dele um réu desde o berço, faz dele também um ser sem Inocência, condenado por um Deus sem Piedade;
condenado... por quê?
não lhe tem sido dado defender-se de um crime que lhe foi imposto, e não viu nunca o rosto do Juiz que o condenou por aquele crime;
ao abrir os olhos para a Vida, encontrou, perto do seu berço, apenas o Castigo;
 foi condenado sem ser ouvido, e isso em nome da Justiça Divina;
como pode um condenado assim acreditar em Deus, ou na Justiça?

***

                A Natureza é má por indiferença;
 a sociedade é má por interesse;
 a Crueldade de ambas é aterradora;
 eu prefiro a da Natureza, porque ela não me obriga a amar o mal que me faz e não me castiga porque não canto seus louvores;
a selva é pura porque não é o império do Homem;
 o império do Homem é a Sociedade, isto é, a Escravidão.
 A Natureza dá o Gênio aos homens e não aos povos, para atirar sempre uma vítima ao Circo de uma época;
 se desse gênio a um povo, quem se encarregaria de o sacrificar?
 Então seria necessário criar Deus, único verdugo digno de sacrificar um povo de Gênio.

***

                Um homem limitado é um homem feliz;
é o infinito que carregamos em nós, o que faz a desgraça de nosso coração;
 tirai  esse infinito e tereis esgotado a fonte do Ideal, que canta em nossa vida;
 sem esse ideal, a vida valeria a pena ser vivida?
 Sim;
como vivem os brutos; e os homens limitados.

***

                As idéias se expõem não se impõem.

***

                O Vício é uma liberdade.

***

                O ouro é demasiado vil;
e, entretanto, ele nos dá a única coisa que não avilta: a Independência.

***

                O Eu, em literatura, é uma palavra que todos dizem odiar e que, entretanto, todos querem impor;
a modéstia serve para isso.

***

                O Homem é a Pitonisa de seu próprio sonho.

***

                O Instinto é o Grande Evangelista da Vida;
o único que não nos engana e ao qual podemos enganar.

***

                Deus não engana o Homem;
 é o Homem quem se engana voluntariamente, acreditando em Deus;
se o medo do Homem cria o Ídolo, para adorá-lo e para tremar diante dele, que culpa tem o Ídolo da imbecilidade daquele que o criou?
 Nosso despeito, ao ver o nada de Deus, é o despeito do Criador que chega a ver a inanidade de sua criação;
 a quem culpar?

***

BIOGRAFIA de José Maria Vargas Vila, pensador, romancista, jornalista, escritor e poeta latino-americano nascido em Bogotá, Colômbia, que por causa de seu permanente combate com a pena e com as armas às ditaduras e tiranias, passou a maior parte da vida no exílio. Ainda muito jovem alternou a atividade de professor em Ibagué, Guasca, Anolaima e Bogotá, com sua participação nas guerras civis como soldado das tropas liberais radicais do colombiano Santos Acosta (1830-1901). Com a derrota liberal (1885), refugiou-se em Los Llanos, região nas proximidades do Rio Orinoco, e com a cabeça a prêmio, logo teve de abandonar o solo pátrio e, banido do país durante a ditadura do presidente colombiano Rafael Wenceslao Núñez Moledo (1825-1894), radicou-se na Venezuela, onde publicou suas primeiras obras, como a coletânea de poemas Pasionarias (1886) e dirigiu os jornais liberais La federación e fundou e dirigiu a revista El eco andino e com o médico Diógenes Arrieta (1848-1897)  e o escritor político colombiano Juan de Dios Uribe (1859-1900), fundou a revista Los Refractarios (1888). Foi assessor do presidente venezuelano Joaquín Sinforiano de Jesús Crespo (1841-1898)  e como diplomata, soube resolver com habilidade um complicado litígio com a Grã-Bretanha. Após uma viagem à Europa, foi também expulso da Venezuela (1891) por suas idéias liberais, no governo de Raimundo Ignacio Andueza Palacio (1846-1900). Mudou-se então para New York, onde fundou a revista de combate Nemesis, foco de rebelião literária e política durante vinte e cinco anos. Nomeado  pelo presidente Eloy Alfaro (1842-1912) cônsul-geral e ministro plenipotenciário do Equador, em Roma (1898), continuou dedicado à literatura. Publicou Ibis (1899), Alba roja (1901) e Ante los bárbaros (1902), que por ter um conteúdo anti-americano, foi impedido de voltar a New York. Mudou-se para Paris (1904), onde escreveu e publicou Laureles rojos (1904), La república romana (1908) e La muerte del cóndor (1914). Durante a primeira guerra mundial esteve na Espanha, onde publicou Vuelo de cisnes (1917) e depois alternou temporadas entre Madri, Paris e Roma. Apesar das perseguições políticas em vida, sua obra obteve grande sucesso na América Latina, mesmo muito depois de sua morte. Escritor revolucionário e autêntico em seus pensamentos e idéias, foi criador de uma extensa obra que obteve a mais ampla ressonância e respeito no mundo Ocidental. Irredutível, solitário e ateu, altivo e vaidoso, faleceu em Barcelona, Espanha, um mês antes de completar 73 anos. Algumas de suas obras foram publicadas postumamente como El maestro (1935), El joyel mirobolante (1937) e José Martí: apóstol-libertador (1938).

Fonte: www.dec.ufcg.edu.br/biografias/

Luiz Humberto Carrião

sábado, 12 de março de 2011

Jânio de fio a pavio


Jânio de fio a pavio / Nelson Valente. -- 1 edição. São Paulo: EDICON, 1996.

É considerado o precursor do marketing político. Refez a linguagem política. Ao invés da palavra e do argumento, manejava símbolos e emoções. O comício era o grande cenário; ele, o próprio espetáculo.

“Uma das suas eleições mais difíceis foi a primeira, para a Secretaria do Centro Acadêmico XI de Agosto: fez uma campanha relâmpago com propaganda original. Derrotou o candidato adversário, que era cotadíssimo. Pôs uma fita no chapéu: “VOTE EM JANIO QUADROS”. Sentou-se numa barrica em frente a Faculdade. Pediu voto por voto e venceu”.

“Deputado Estadual usava como símbolo uma vela, que visava destruir as trevas que pesavam há longos anos sobre a democracia paulistana”.

“Outro símbolo memorável que Jânio apresentou foi o “tostão contra o milhão”; ele representava o tostão pobre contra o milhão dos poderosos”.

“Empunhava a vassoura que prometia, à luz das velas, como um bruxo, varrer os corruptos, os ladrões, os políticos desonestos; era aquele que vinha salvar as finanças públicas da simples expressão de massa falida”.

“Na campanha de governador mandou fazer 2 milhões de vassourinhas, o símbolo da sua campanha. Os cartazes da sua propaganda tinham uma grande vassoura, fazendo correr os ratos (políticos) assustados, caindo fora por todos os lados”.

“Na propaganda pelo interior do Estado cartazes simples: uma vassoura e os dizeres: Jânio vem aí”.
“Ao pendurar um par de chuteiras na porta do seu gabinete na Prefeitura, em 86, indicando disposição de se aposentar, conseguiu o efeito desejado: políticos e jornalistas passaram a especular sobre o gesto. Jânio não saia do noticiário”.

“Não gastava um centavo com publicidade oficial, mas era manchete diariamente”.
Para o autor, Jânio foi inimitável, sem herdeiros políticos. Ele representou a maior bofetada que as elites brasileiras já receberam.

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_ “Nesta cadeira, será diplomado um dos três candidatos à presidência” disse-lhe o Ministro Nelson Hungria.

_ “E o senhor ainda tem dúvida sobre qual será ele?”, respondeu-lhe Jânio Quadros.

Convidado por um dos fotógrafos a sentar-se na cadeira, o candidato (Jânio) recusou-se a fazê-lo, porque o lugar lhe merecia respeito, e além do mais, ele não desejava antecipar-se às urnas.

Às vésperas das eleições à prefeitura da cidade de São Paulo, seu concorrente Fernando Henrique Cardoso, apareceu no último programa eleitoral sentado na cadeira de prefeito de São Paulo. Foi derrotado por Jânio. Este a caminho a prefeitura paulistana para tomar posse, solicitou que o motorista parasse diante de um supermercado onde comprou um frasco de inseticida usado por ele para desinfetar a cadeira do prefeito, porque, segundo ele, “nádegas indignas” haviam sentado ali.

Este era Jânio Quadros, amado e odiado.

Luiz Humberto Carrião