terça-feira, 13 de dezembro de 2011

A SOMBRA E O RESTO, um olhar sobre a vida aos 80 anos



A Sombra e o Resto, um olhar sobre a vida aos 80 anos. Fernando Henrique Cardoso, em depoimentos a Miguel Darcy, Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 2011.

Um historiador resolveu escrever sobre o período republicano brasileiro. Percorreu livrarias, sebos, museus, fez entrevistas, e quando concluiu sua obra, realizando-se como profissional, era possuidor de um acervo extraordinário, porém, também possuidor de um sonho: de terminar seus dias num sítio longe do lufa-lufa da cidade grande em que nascera, crescera e cumprira seu deve. Porém, a profissão escritor no Brasil, principalmente, aquele que opta por livros técnicos quase sempre, se não possui uma estabilidade financeira familiar, vive de maneira muito modesta. Para realização do sonho campesino a única maneira seria vender todo o acervo. Foi até um jornal de circulação nacional e em seus classificados anunciou a venda de toda a matéria-prima utilizada na confecção de seus livros. Como? Que ideia louca essa? É que tudo o que ali existia já havia sido objeto de pesquisa, análise, estudo, anotações por parte de seu proprietário para a produção da coleção sobre a História da Republica Brasileira. Com ela havia poupado muitos de tantas pesquisas, horas de estudos. Agora como ele mesmo afirmou, depois de décadas de trabalho o descanso merecido do guerreiro. Sim, muito merecido. Suas obras são o que de maior riqueza existe sobre o tema. Não sei se conseguiu seu intento, mas essa história ficou arquivada em minha memória.

Sempre gostei muito de livros. Não só de suas leituras, mas também de manuseá-los, estruturá-los numa estante, guardá-los em uma biblioteca, tê-los sempre a mão. Um amor que teve seu início ainda no período de alfabetização levado a efeito ainda na zona rural por minha mãe, através de livros de histórias infantis presenteados por minha madrinha que trabalhava numa livraria na cidade em que nasci. Os tenho ainda hoje na casa de minha mãe. Depois, na adolescência pelo incentivo de uma tia, acabei por ler a maioria dos clássicos existentes numa estante de madeira no quarto que hospedava em sua casa. Ela era jornalista e depois formou-se em direito. Também o incentivo pela admiração de um professor de História, para quem o livro era algo sagrado. Por fim, uma pessoa interessante em minha história de vida, Arlene Cunha, que um dia chegou ao quarto em que morava com o livro Na ante véspera, de Monteiro Lobato, Editora Brasiliense, livro que reúne artigos do autor publicado nos jornais cariocas, O Jornal e A Manhã, durante o período de 1925 a 1927, tratando de temas como a vanguarda artística que ganhava a cidade de São Paulo e a Republica Velha (l889 – 1930) que davam sinais de enfraquecimento. Também textos do autor quando estudante na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, na capital paulista, e disse: eis o primeiro volume de nossa biblioteca. Embora não tenhamos levado adiante o nosso projeto de vida, levei o da construção de uma biblioteca. E nela, devo possuir uma ou duas obras do sociólogo Fernando Henrique Cardoso, publicadas antes de tornar-se presidente da republica. Confesso que não me conquistou como escritor. Todavia, neste ano, 2011, deparo-me o lançamento de um livro seu sob o título A Soma e o Resto, um olhar sobre a vida aos 80 anos, depoimentos a Miguel Darcy, pela editora Civilização Brasileira.

O que tem de comum entre os parágrafos anteriores? Tudo. O próprio Fernando Henrique Cardoso é quem define: “Resisti sempre a escrever autobiografias, mesmo intelectuais. Se viver muito mais tempo talvez quebre a resistência a tal proeza e venha a publicar algo sobre minhas experiências mais diretas ao lidar com pessoas, ideias e situações. Neste livro não faço isso. Apenas, imbuído pelo ardor dos 80 anos, me dei o direito de falar mais francamente sobre temas sobre os quais tenho trabalhado depois que deixei a Presidência. Isso não quer dizer que em outras publicações eu não tenha sido franco ou tentado ser veraz. Quer dizer apenas que a linguagem coloquial usada levou-me a ir mais diretamente aos pontos, sem me preocupar com fundamentar por demais os argumentos ou vestir as frases com roupagem adequada a um “catedrático”, ainda que aposentado, e menos ainda a um ex-presidente cuja voz, já mais debilitada, ainda se faz ouvir em alguns círculos políticos.” Com isso, saiu de cena o intelectual, o político para dar vasão ao professor. Não que os dois primeiros não sejam humanos como o terceiro, mas a didática deste faz com que a capacidade de entendimento seja maior.

A Soma e o Resto – um olhar sobre a vida aos 80 anos - um livro interessante onde o ex-presidente discorre sobre a História recente do Brasil, América Latina e o restante do mundo. Também procura justificar atitudes tomadas como presidente da republica que não foram bem entendidas por políticos de oposição e articulistas políticos. Se em época de salas de aula, ministrando a disciplina História, com certeza seria levado a efeito seu trabalho junto aos meus alunos. Uma linguagem simples e com uma análise ocular de quem participou como agente na construção histórica narrada.

Vale a pena sua leitura.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

OS OITO PILARES DA SABEDORIA GREGA - o que podemos aprender com a História e os Mitos clássicos –

Os oito pilares da sabedoria grega – o que podemos aprender com a História e os Mitos clássicos – Stephen Bertman, P.H.D., tradução de Maria Luiza Newlands, Rio de Janeiro, Sextante, 2011

Que me desculpe esse leitor que por um acaso encontrou esse blog perdido na blogosfera - já vou dizendo: não sou muito entusiasmado com livros de autoajuda. Me parecem receitas de bolo. São todos iguais e com um agravante, oportunistas. Não são poucas as editoras e autores que têm esse tema a priori em função da rentabilidade comercial que proporciona. A ciência médica com seu avanço tem trazido à tona doenças antes desconhecidas e, outras que a deixa impotente diante da cura; a desigualdade dos mundos acima e abaixo da linha do Equador não os divide em ricos e pobres, a miséria generalizou-se; a educação se transformou num balcão de negócios nas escolas particulares, e um faz de contas nas escolas públicas; a religião passou a desafiar e vencer a Física para seus fiéis, porém, lá na frente, o ingênuo se dá conta de que não é bem assim; a velocidade da informação atordoa; e tudo isso, levou o ser humano a mudanças profundas nessas últimas décadas, globalizou-se tudo, até o estresse e a sua consequência, a depressão. E como deuses, autores se propõem através de seus livros sagrados de autoajuda proceder-se a milagres, como esses pastores neopentecostais e suas igrejas fantásticas. Só por isso. Nada mais.

Na História da humanidade, mais precisamente no que didaticamente se convencionou chamar de História Antiga, dois países chamam a atenção e ambos trazem nesta atenção algo de peculiar a cada um. O Egito, com a sua memória viva através do Rio Nilo e de suas piramides e estátuas que desafiam o tempo e o seu modo de produção. Este simplesmente extraordinário e desafiador. Como que uma civilização limitada em alguns meses do ano em sua agricultura, conseguiu ser o celeiro do Mundo Antigo. A Grécia, pela sua cultura extraordinária, através da qual expressou não somente o pensamento de seu povo, mas a realidade de que nós, humanos, é que somos criadores, inclusive, de deuses. Ah! Se os árabes não tivessem feito o que fizeram na Grécia, e os bárbaros em Roma! Ah! Se a Igreja não tivesse agido como agiu na Idade Média! E se Lutero, no momento de “cessar tudo o que a musa antiga canta” não tivesse inventado o Auto Exame! Ah! Se Calvino não tivesse existido!O mundo certamente seria diferente. Muito diferente.

Os oito pilares da sabedoria Grega: o humanismo, a busca de excelência, a pratica da moderação, o autoconhecimento, o racionalismo, a curiosidade incansável, o amor a liberdade e o individualismo são extraídos dos ensinamentos gregos para compor mais um desses livros de autoajuda. Só que, com uma diferença. Seu autor como doutor em literatura grega e latina pela Universidade de Colúmbia, além de especialista em estudos clássicos pela Universidade de Nova Iorque e em estudos judaico e sobre o Oriente Médio pela Universidade Brandeis, e atuando como professor, consultor educacional e palestrante e dedicando sua vida a construir pontes entre os mundos do passado e do presente explorou bem a mitologia grega. E como! Se me perguntarem gostou do livro? Direi que sim! O autor explorou bem a relação entre deuses e humanos na Grécia antiga. Só por isso!

Vale a pena sua leitura pela viagem na Mitologia grega.